03 abril 2024

CORPOS entre enCONTROS no Tropigalpão

Todes convidades para este evento do qual estarei participando com o curta ‘Suspensão’. Esta quinta, 4/4, 18h30 no Tropigalpão. Vamos?


BrisaLAB - Laboratório de Pesquisa em Performance, MídiaArte e Questões Ambientais realiza CORPOS entre enCONTROS, uma mostra de curtas, propondo um acontecimento em fluxo. Com o intuito de lançar impressões e espontaneidades, convidamos a tecer diálogos entre os filmes, as artistas e o público. 


Curtas-metragens: 

Woodling

Suspensão

Hutukara: entre a pele e a casca

Não se pode tocar, está em mim, está em nós


04/04 * 18h30


Tropigalpão 

Rua Benjamin Constant, 118 – Glória


Realização: 

BrisaLab: Bio-Rizoma de Intervenção e Sensibilidades Artísticas (PPGCA/UFF – PPGAV/UFRJ-CNPQ) & Oslo National Academy of the Arts 





30 novembro 2023

Arte & Processos de Criação | Exposição no MAC Niterói

Abre este sábado, 2 de dezembro, a exposição coletiva Arte & Processos de Criação, da qual participo, no MAC (Museu de Arte Contemporânea de Niterói). A curadoria é do João Wesley de Souza, meu primeiro orientador em artes visuais num grupo de estudos de 2002 a 2005, na saudosa Galeria Lana Botelho, na Gávea, RJ. Foi ali que conheci minha parceira e dupla de pesquisas e trabalhos, Isabel Löfgren, e tantas outras pessoas bacanas!

Participo da exposição com alguns trabalhos da série Fenda. A abertura será no horário normal do Museu, de 10h às 18h, e a exposição poderá ser vista até 25 de fevereiro de 2024.



24 janeiro 2023

Fotos do livro Do amor

Registros de algumas páginas feitos pelo José Fujocka, da Lovely House Casa de Livros, onde a publicação é vendida em São Paulo.
















05 dezembro 2022

Do amor no Festival Zum 2022

Este fim de semana estive em São Paulo para apresentar meu fotolivro na Biblioteca do Instituto Moreira Salles, dentro da programação do Festival Zum 2022. Do amor foi selecionado na convocatória de fotolivros do festival, junto com outras 44 publicações. 

Este ano foram escolhidas 45 publicações entre 215 fotolivros, zines, catálogos e livros de fotografia recebidos de todas as regiões do Brasil, além de países da América Latina e da Europa.


A convocatória foi criada em 2017 para aprofundar os vínculos do Instituto Moreira Salles com a produção contemporânea de fotografia voltada ao meio editorial. Queremos conhecer, exibir e divulgar os fotolivros, bem como estreitar relações com artistas em diversos estágios de carreira, produtores, editoras, designers e o público. 


Foi muito bacana a troca com o público presente! O livro também participou da Feira de Fotolivros no stand da {Lp press}, editora da publicação.









30 novembro 2022

'Forever is made up of many nows', Brisa Galeria, Lisboa

No dia 23 de novembro abrimos na Brisa Galeria, em Lisboa, a exposição 'FOREVER IS MADE UP OF MANY NOWS', um diálogo entre trabalhos meus e de Daniel Mattar, com curadoria de Rhanine Pessoa.

A mostra conta com obras fotográficas da minha série “Imagens Posteriores” e pinturas a óleo sobre fotografias da série “Nova Pele” de Daniel Mattar, uma imersão em “horizontes transcendentes” de ambos artistas.


A montagem ficou deslumbrante e segue aberta à visitação até 14 de janeiro de 2023 na Brisa.
















10 novembro 2022

Oficina e lançamento do livro Do amor em Lisboa

Temporada lisboeta promete!


Lançamento do livro Do amor + oficina ‘Modos de ver e encontrar: escavar histórias e ressignificar arquivos” no dia 17.11 no Nowhere, espaço experimental de arte capitaneado pela curadora Cristiana Tejo e pelas artistas Luiza Baldan e Marilá Dardot, brasileiras radicadas em Portugal.


17.11


16h a 19h oficina ‘Modos de ver e encontrar: escavar histórias e ressignificar arquivos”


19h a 21h lançamento do fotolivro Do amor, editado pela {Lp} press


Nowhere

Rua dos Poiais de São Bento, 6

Lisboa, Portugal












14 outubro 2022

Reler Debret | Museu da Chácara do Céu

Neste sábado inaugura a exposição Reler Debret no Museu da Chácara do Céu, onde eu e Isabel Löfgren participamos com nossa releitura, ou melhor, "Modos de olhar" Debret, parte do projeto Mãe Preta, pesquisa desenvolvida entre 2016 e 2021. 

A série Modos de Olhar inclui o político sobre Debret que iremos apresentar, além de outras revisitações de obras de artistas e fotógrafos viajantes do século XIX, destacando a complexidade das relações das amas de leite na luta entre a sobrevivência de seus filhos e a obrigação de aleitar os filhos de seus “senhores”.


Muito felizes de estarmos juntes destes artistes maravilhoses! Todes convidades! 




26 setembro 2022

Novo livro: Do Amor

Sábado passado fizemos um pré-lançamento do meu novo xodózinho no 18o. Festival Internacional Paraty em Foco e agora seguimos com os lançamentos no Rio e São Paulo! 

De 2018 a 2022 frequentei aplicativos de relacionamento, formando uma coleção tanto afetiva quanto “abismada”.  O fotolivro “Do Amor” é o resultado desta experiência, e mostra como o difícil momento da polarização política do país invadiu o campo dos afetos e desejos.  

Editado pela {Lp} press, o livro de 96 páginas, pouco maior que um celular, apresenta perfis e diálogos permeados pelos ruídos típicos das relações virtuais contemporâneas.  

O lançamento no Rio terá um bate-papo com o editor Rony Maltz e será no dia 1/10 às 16h, véspera das eleições, no Agô Bar da Encruza [Rua Áurea, 30, Santa Teresa, RJ], uma ação entre amigues para que possamos abrir os caminhos com muito axé e boas energias para o nosso país!

Em São Paulo lançaremos no dia 8 de outubro às 15h na Lovely House Casa de Livros, que fica na Galeria Ouro Fino, 2ºandar, Rua Augusta 2690 #329, também com a presença do editor Rony Maltz, que escreveu sobre o fotolivro:

"Amar é foda. Ou antes fosse. Em tempos de virtualização crescente, tocar o outro é cada vez mais raro, em todos os sentidos. Nos encastelamos em nossas bolhas, caixas de ressonância de nossas próprias opiniões, alienando a diferença e impossibilitando a abertura para o novo (ou para o novinho). Patricia é uma mulher de 48 anos, divorciada, disposta a furar a bolha. Por quatro anos, de 2018 a 2022, ela desbravou o universo dos aplicativos de relacionamento, sem filtros, disposta a novas experiências - políticas, estéticas, afetivas e sexuais. Do amor é resultado dessa imersão, registro fragmentado de alguns desses encontros e, por tabela, de certo modo de relacionamento contemporâneo, com toda sua liberdade e todos os seus ruídos. Ao levar para o papel sua experiência nas telas, sem a proteção de avatares, Patricia Goùvea compartilha uma coleção tanto afetiva quanto abismada e alguns de seus dilemas nada virtuais com o mundo atual, permeado de fissões sociais e políticas que não vão embora num arrastar de dedo por uma tela de celular."




19 setembro 2022

18o. Festival Internacional Paraty em Foco

Alegria em fazer parte da programação dos Encontros e Entrevistas do 18o. Festival Internacional Paraty em Foco nesta conversa em torno do livro “Fotógrafas Mulheres: Imagem Substantiva”, com a autora Yara Schreiber Dines e a fotojornalista Wania Corredo.

Iremos apresentar um pouco dos nossos trabalhos e de certa forma representar tantas fotógrafas maravilhoses que fazem parte desta publicação. Muitos livros ainda serão necessários para dar conta da enorme produção feita por mulherxs fotógrafxs no Brasil! Esta quinta 20h na Casa de Cultura de Paraty!



17 agosto 2022

Reverberações da Floresta | Om.art

Mesmo não estando na floresta, ela reverbera em mim e no meu trabalho. É para lá que meu pensamento voa desde que entrei na Amazônia pela primeira vez em 2017. Foi muito nutritivo estar semana passada entre pessoas tão bacanas num ambiente tão instigante como é a Om.art e contar um pouco sobre este recorte da minha pesquisa de forma presencial depois de uma longa fase de introspeção.

Muito agradecida à Roberta Tavares pelo convite, pelo acolhimento do seu grupo de alunes-fotógrafes do Alfabetismo Visual, pelos amigues presentes e por reconhecer em Oskar Metsavaht uma voz potente na luta pela preservação dos povos originários brasileiros e nossa imensa riqueza, nossa Mãe Floresta.

Registros de @Fernanda Chemale







02 agosto 2022

Fotografia como Paisagem

[Texto publicado em espanhol na Revista Once, da Maestria de Artes Plásticas de Bogotá, Universidad Nacional de Colômbia, 2006]


A concepção tão popularizada da fotografia como a técnica capaz de aprisionar o tempo e de congelar para sempre uma cena que jamais se repetirá – eterna mumificação da vida -, teve como principal conseqüência a generalização da idéia do instantâneo fotográfico como algo visceralmente associado ao real, como se entre este e o resultado formal da imagem não coubesse nenhuma mediação ou operação conceitual.


Edmond Couchot, artista francês e autor do livro A tecnologia na arte: da fotografia à realidade virtual, diz que “com a fotografia, a presença do objeto se torna incontornável. O objeto preexiste necessariamente à imagem. O real faz pressão sobre a imagem e sua exaltação realista ou seu distanciamento com o simbolismo não se torna apenas preocupação dos fotógrafos”*1.


Afastar-se, portanto, do instantâneo, é uma operação muito mais usada por artistas que desejam dissociar a fotografia de uma necessária condição de legitimadora do real, de seu caráter mimético primeiro, que surgiu junto com sua invenção.


Raymond Bellour, autor do livro Entre Imagens, referindo-se a este assunto, afirma: “ (...) Quando a foto decide integrar o traço do movimento visível, dar-lhe seu lugar na tomada e na composição, ela cede a uma força ambígua. Há, por um lado, algo selvagem, elementar, que arrebata o fotografo diante do “real que ele escolheu, para nele favorecer o imprevisível, o que seria artificial ou vão tentar reduzir à pureza afinal imaginária do instantâneo e de suas linhas nítidas, demasiadamente nítidas, que nos levariam a acreditar numa visão translúcida da vida. Mas, por outro lado, nada é menos natural do que as linhas tremidas, as espessuras, os empastamentos por meio dos quais a imagem adquire, no todo ou em parte, uma segunda vida, irredutível à simples visão, à imediatez da visão”*2.


O olho em seu estado normal não vê fora de foco nem conserva inscrito em si mesmo o traço materializado de um movimento, algo que a objetiva, esse falso olho, consegue captar e reproduzir. Mas, muito além dos aspectos maquínicos da operação fotográfica, a questão que o tremido coloca é a introdução do corpo no sistema, como se o olho passasse a operar como corpo, um olho que adere à

paisagem.


Trata-se, portanto, sempre de uma interrupção daquilo que o instantâneo esconde, um estrondo interno na relação entre o corpo-olhar e a realidade que aparece.


A fotografia sempre teve a necessidade de escrutinar o movimento. No início, com Marey e Muybridge, com preocupações científicas, para decompô-lo. Logo depois, seguindo a mesma pesquisa, mas com intenções artísticas, para compô-lo, como podemos ver nas experiências dos irmãos Bragaglia e seu fotodinamismo. De maneira geral, uma das dimensões da vanguarda nas três primeiras décadas do século

(dadaísmo, surrealismo, construtivismo) é essa busca para ultrapassar as fronteiras entre pintura, foto e cinema. O problema hoje, como afirma Bellour, não é mais decompor ou compor o movimento, e sim impressioná-lo. Deixá-lo impressionar, impressionar-se com ele, deixar-se impressionar por ele.


Alain Bergala, no livro que comenta a Correspondance New-Yorkaise do fotógrafo/cineasta Raymond Depardon, distingue duas espécies de fotografias e de fotógrafos: o que acredita na realidade e faz da foto uma arte da presença (que ele chama de fenomenólogo) e o que acredita na realidade como algo impossível e nunca faz mais do que fixar a ausência (o lacaniano). Os artistas que usam os recursos do

tremido, borrado ou desfocado se encontrariam não numa terceira categoria, mas na posição de reunir as duas primeiras, simultaneamente. “O tremido não diz: eu sou a realidade, na qual é preciso acreditar; tampouco diz: eu sou a ausência da realidade. Ele propõe uma realidade duplicada por um afastamento em relação a si mesma: Um signo reconstruído, um signo de arte que procura exprimir uma pulsão do corpo

inscrevendo-se no tempo que se tornou visível”*3.


E é também Philippe Dubois, no livro Cinema, video, Godard, quem sugere que o uso da câmera lenta no cinema, e por extensão o da baixa velocidade na fotografia, funciona como um momento de pesquisa e interrogação sobre a imagem, os gestos e os corpos representados, sobre o que resta de acontecimento no olhar que podemos lançar para as coisas (“desacelerar para ver, não isto ou aquilo, mas ver se há algo a ver”)*4.


Sem dúvida estas reflexões me inspiraram e influenciaram no processo de criação de minha primeira série não-documental, Imagens Posteriores, iniciada em 1998. Nela, me servi intencionalmente de técnicas fotográficas como o uso da baixa velocidade e o deslocamento para criar um “estranhamento” do olhar tendo como matéria a paisagem.


O ponto de partida do trabalho foi a interrogação: como posso interagir com o espaço entre, a partida e a chegada, criado pela velocidade? Geografia embaçada, tempo estendido, foram algumas estratégias para o resultado visual de uma imagem que se pretendia expandida para além do fotográfico. Que pudesse conter música, que pudesse contar com o corpo e emoção do observador em sua própria viagem. Mais tarde, relendo Bellour, deparei-me com uma passagem que antes havia passado despercebida e que me levou a repensar a questão do instantâneo na fotografia.


“Se o congelamento da imagem, ou na imagem, o que poderíamos chamar também de tomada fotográfica do filme, pose ou pausa da imagem que exprime o poder de captação pelo imóvel, se essa experiência é tão forte, certamente é porque joga com a sentença de morte – seu ponto de fuga e, num certo sentido, o único real (...) a sentença que pronuncia a morte é também o que vem suspendê-la, virá-la pelo avesso e devolvê-la à vida, ao tempo de uma vida indeterminada; a narrativa se prolonga para substituir a morte por uma força encantadora, de uma plenitude de enigma (...).”*5


Esta afirmação nos leva a ressignificar o instantâneo fotográfico e nele encontrar uma profundidade que jamais se apresenta por si só. De certa forma, ressignificar o instantâneo não como morte do fluxo, mas suporte de pulsação de vida, foi o mote para a série Fenda, iniciada em 2003 e realizada no espaço íntimo da minha casa.


Quando reconhecemos a balança de um tempo transmutável, onde destruição e desaparecimento estão diretamente ligados ao nascimento ou surgimento do novo, podemos finalmente perceber a urgência da vida e sua capacidade de vencer a morte. No âmbito de diversas culturas, essa capacidade é identificada com a reprodução e em rituais de fertilidade, e é contada em mitologias que chegaram até nós, como na história da deusa Hel, que serviu de inspiração para esta série.


Na mitologia nórdica, Hel é a deusa da Vida e da Morte. Ensina aos mortos como viver da frente para trás. Eles vão se tornando mais jovens, mais jovens, até que estão prontos para renascer e para voltar à vida. A recuperação do divino tem lugar nas trevas de Hel.


Corpo Significante, série iniciada em 2004, é composta de trabalhos que podem ser apresentados separadamente ou em conjunto. Quatro estudos para grandes painéis – Colo, Peito, Mãos 1 e 2 – sugerem uma investigação espacial acerca dos gêneros masculino e feminino e sobre a passagem do tempo notada em partes do corpo de mulheres e homens que não têm sua identidade revelada.


O método visual pode nos remeter a antropometria, estudo das medidas do corpo humano para uso em classificação antropológica e comparação. No século 19 e inícios do século 20, a antropometria era uma ciência usada principalmente para classificar potenciais criminosos pelas características faciais. O cientista Cesare Lombroso, por exemplo, em Criminal Anthropology (1895), afirmava que os assassinos tinham maxilas proeminentes e barba espessa. O trabalho de Eugène Vidocq, que identificava criminosos pelas características faciais, ainda era usado na França um século após a sua introdução (para não falarmos sobre o uso infame desta ciência pelos nazistas).


Não esquecendo esta referência histórica, estas obras falam, no entanto, de uma geografia diáfana inscrita nos corpos onde cada unidade do desenho comum revela-se como uma partícula evidentemente única, um cosmos particular.


O corpo aqui é também usado como paisagem, mas num sentido contrário ao da série Imagens Posteriores, onde desta eram retirados propositalmente os localizadores geográficos que permitem ao observador reconhecer lugares que, de tão explorados turisticamente, já se tornaram monumentos fetiche, prontos para um certo consumo visual. Nos quatro trabalhos citados, o corpo é mostrado por inteiro em suas partes, como mapas onde é possível nitidamente ver as marcas particulares de cada indivíduo.


Os outros trabalhos desta série – Nanorelação e Lugares-Comuns – foram apresentado na Nanoexposição, primeira ação do coletivo GRUPO DOC*6, como foto-objetos.


Em Nanorelação o tamanho de cada imagem é de 2.5 x 1.66 cm, aplicada sobre miniaturas de camas de madeira envoltas com tecido de lençóis. O trabalho é para ser visualizado com uma lupa, reforçando a intenção de fazer do espaço íntimo de uma cama de casal, com todos os seus conflitos e encontros, algo que apenas uma pessoa de cada vez pudesse observar. 


Lugares-comuns é constituído de dois dados de madeira de 3 cm cada com imagens aplicadas. O trabalho brinca com palavras recorrentes no universo da arte contemporânea associadas a imagens da preferência nacional brasileira: a bunda.


Esta série reúne trabalhos com resultados visuais diversos mas com uma temática comum: um corpo que produz sentido através de sua própria gramática e de sua relação com outros corpos possuidores de energias em ação e de forças em processo.


Instantânea ou não, uma fotografia é, para mim, mais do que o congelamento do tempo, a compressão do tempo numa arrumação espacial condensada de algo que é puro movimento, luz, um todo que não conseguimos apreender num mesmo tempo, somente por partes. Uma paisagem em devir.



(Notas)

1 COUCHOT, Edmond. A tecnologia na arte: da fotografi a à realidade virtual. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003. Pág. 36

2 BELLOUR, Raymond. Entre-imagens: Foto, cinema, vídeo. Campinas, SP: papirus, 1997. Pág. 96

3 BELLOUR, Raymond. Entre-imagens: Foto, cinema, vídeo. Campinas, SP: papirus, 1997. Pág. 105

4 DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

5 BELLOUR, Raymond. Entre-imagens: Foto, cinema, vídeo. Campinas, SP: papirus, 1997. Pág. 13. Grifo meu.

6 Grupo DOC (Desordem Obssessiva Compulsiva), formado pelos artistas Isabel Löfgren, Marco Antonio Portela, Mauro Bandeira e Patrícia Gouvêa.





Texto de Maria Iovino para a individual 3 Séries (Colômbia, 2005)

Depois de muitos anos, consegui recuperar o texto da que a curadora e crítica de arte colombiana Maria Iovino escreveu em 2005 para a minha exposição individual 3 Séries, na Câmara de Comércio de Bogotá:


***

Patricia Gouvêa se encontra, em nosso continente, entre os artistas que retornaram à representação da paisagem e de tópicos mais recorrentes no mundo natural, através de óticas que desestabilizam, no estranhamento do habitual e com lúcida delicadeza, as noções mais recorrentes ou acentuadas na interpretação do contexto ou das referências culturais. Esta operação é feita com uma compreensão do tempo e do espaço alheio aos simplismos, o que leva a uma apreciação renovada do que nos é próprio ou próximo.

 

Nestas proposições se reconhecem, portanto, distâncias e inclusive críticas (como no caso de Patricia Gouvêa), aos estereótipos latinoamericanistas na arte, embora na maior parte dos casos neles se expresse claramente uma preocupação em corresponder, com honestidade, às problemáticas e condicionamentos locais. É compreensível então que o imaginário nutrido por estas visões, além de ser invadido pelo ar, penetre até o íntimo da referência interpretativa, rompendo ou eliminando as demarcações mais conhecidas e

acentuadas.

 

Com esta força, Patricia Gouvêa revisita uma paisagem tão difundida no mundo do exuberante, do imponente e do exótico como é a do Rio de Janeiro ou a do território andino. Através da relocalização do seu horizonte e de seu ponto de fuga, da sensação de estremecimento formal e do deslocamento da cor que produz o fluxo vital em cada corpo do mundo visível, a artista detecta a impressão com a qual o devir, continuamente redesenha estas regiões, de maneira tanto inédita como inesperada.

 

Neste sentido, por baixo de uma aparência serena e talvez adormecida do que se considera estabelecido, Patricia Gouvêa nega com argumentações rotundas toda pré-conceitualização e, com ela, qualquer possibilidade de certeza, em um frenético batimento de vida, impossibilitado pela sua própria essência, para sustentar as demarcações que, contínua e eventualmente, traça o movimento.

 

O atrativo varrido de tempo que Patricia Gouvêa gera na paisagem, se fabrica com elementos temidos e, por esta mesma razão omitidos, na clarificação que fazem as interpretações ou as conceitualizações do mundo cognoscível, como são a incerteza e o mistério.

 

O contorno, como ficção do conhecimento está negada nesta proposta e quando é reconhecida, em séries como Fenda ou como Corpo Significante, se afirma como conflito, como abismo que devolve à origem e, nesta via como infinito circular da complexidade inextrincável.

 

Em oposição à Imagens Posteriores, em Fenda e em Corpo Significante é a fronteira que estremece o espaço mais íntimo das relações e dos intercâmbios, embora esta fronteira seja entendida como abertura simbólica ao fluxo em que se redesenham o particular e o comum. Com este olhar é que a geografia volta a tomar sua diáfana inscrição nos corpos de Corpo Significante, nos quais cada unidade do desenho comum é uma partícula evidentemente única e nos quais um tempo de todos e o trânsito incontestável, inscrevem uma e outra vez o que se crê conhecido e tangível. Elas operam com a confusão do múltiplo e do interminável, oculta atrás da face relaxante do cotidiano e do reiterado.

 

 

 

María A lovino

curadora e pesquisadora colombiana