02 julho 2012

Showroom! sobre a exposição de Mauro Bandeira

@Mauro Bandeira, Série Negra








Texto para a exposição Showroom, de Mauro Bandeira | Galeria do Ateliê, 2008


Art is not a show in itself. It’s a necessity.
Richard Tuttle

O título Showroom! poderia sugerir que esta exposição de Mauro Bandeira se tratasse de mero agrupamento despretensioso de obras desenvolvidas nos últimos anos pelo artista, como o fazem grandes lojas de mobília e objetos para atrair potenciais clientes que ainda não estão certos do que comprar.

Showroom! é, no entanto, como as duas palavras tomadas do inglês podem significar, além de seu sentido literal,  um espaço à mostra, um laboratório de idéias, um local que convoca o espectador a experimentar os objetos criados pela necessidade de um artista: Venha! Olhe! – um convite e uma coragem.

Neste “espaço à mostra”, a linha se afirma como fio condutor para a pesquisa de Bandeira, saltando do plano da tela para os relevos sobre papel, criando destas topologias em branco novos papéis milimetrados que brincam com suas preferências artísticas, daí tornando-se maleável como o tecido até criar, para seu próprio deleite, um novo alfabeto – todo um repertório de novas leituras e desarranjos para o que normalmente designamos desenho.
A linha, desde a série Teoria do Erro, é o mote usado pelo artista para mostrar que todo código e todo sistema, por mais rígidos que pareçam, conceitualmente e tecnicamente, estão sujeitos ao imprevisível, ao inusitado, ao lúdico, ao orgânico que contamina o inorgânico e gera vida.

Os objetos gerados por Bandeira são imagens que um dia foram idéias. Eles são realidades que transcendem a realidade, presenças que devem ser experimentadas para além de suas referências artísticas e seus starts conceituais.

Assim como o estado gerado por longos períodos de meditação – atividade praticada diariamente pelo artista – sua obra deixa vir à tona a essência de tudo que é e está escondido sob os véus de maya, a ilusão cósmica.

As superfícies-objeto, que aqui se apresentam, resultam do mergulho do artista para dentro de si e de sua poética, nascidas daí, como pequenos mundos em si, despidos de personalidade e de identificação: como alephs*, pontos que podem conter em si todo o universo.


* BORGES, Jorge Luis. El Aleph. Buenos Aires: Emecé Editores, 2001.

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