@Mauro Bandeira, Série Negra |
Texto para a exposição Showroom, de Mauro Bandeira | Galeria do Ateliê, 2008
Art
is not a show in itself. It’s a necessity.
Richard Tuttle
O título Showroom! poderia sugerir que esta
exposição de Mauro Bandeira se tratasse de mero agrupamento despretensioso de
obras desenvolvidas nos últimos anos pelo artista, como o fazem grandes lojas
de mobília e objetos para atrair potenciais clientes que ainda não estão certos
do que comprar.
Showroom! é, no entanto, como as duas palavras tomadas do
inglês podem significar, além de seu sentido literal, um espaço à mostra, um laboratório de idéias,
um local que convoca o espectador a experimentar os objetos criados pela
necessidade de um artista: Venha! Olhe! – um convite e uma coragem.
Neste “espaço à
mostra”, a linha se afirma como fio condutor para a pesquisa de Bandeira,
saltando do plano da tela para os relevos sobre papel, criando destas
topologias em branco novos papéis milimetrados que brincam com suas
preferências artísticas, daí tornando-se maleável como o tecido até criar, para
seu próprio deleite, um novo alfabeto – todo um repertório de novas leituras e
desarranjos para o que normalmente designamos desenho.
A linha, desde
a série Teoria do Erro, é o mote
usado pelo artista para mostrar que todo código e todo sistema, por mais
rígidos que pareçam, conceitualmente e tecnicamente, estão sujeitos ao
imprevisível, ao inusitado, ao lúdico, ao orgânico que contamina o inorgânico e
gera vida.
Os objetos
gerados por Bandeira são imagens que um dia foram idéias. Eles são realidades que
transcendem a realidade, presenças que devem ser
experimentadas para além de suas referências
artísticas e seus starts conceituais.
Assim como o
estado gerado por longos períodos de meditação – atividade praticada
diariamente pelo artista – sua obra deixa vir à tona a essência de tudo que é e
está escondido sob os véus de maya, a
ilusão cósmica.
As
superfícies-objeto, que aqui se apresentam, resultam do mergulho do artista
para dentro de si e de sua poética, nascidas daí, como pequenos mundos em si,
despidos de personalidade e de identificação: como alephs*, pontos que
podem conter em si todo o universo.
* BORGES, Jorge Luis. El Aleph. Buenos Aires: Emecé Editores, 2001.
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